por Renata Lídia | Agosto de 2024


De acordo com Rafael Cardoso, em sua obra “Design para um mundo complexo”, não podemos definir e entender o mundo de forma objetiva e nem resolver seus problemas ou pensar sobre eles de uma única forma. E o primeiro passo é aceitar essa realidade, assim diz o autor. No design, pessoa cujo propósito de nascer é observar o mundo, expor e tentar solucionar os problemas vigentes, é extremamente necessário a compreensão do mundo complexo. E não só isso, buscar a absorção e indagação de diferentes maneiras ou procurar decifrar a partir de perspectivas distintas se torna necessário para o design seguir em sua essência de vida.

Assim como diz o autor “[...] Não é responsabilidade dos designers salvar o mundo, como clamavam as vozes proféticas dos anos 1960 e 1970, até porque a crescente complexidade dos problemas demanda soluções coletivas.” (CARDOSO, 2012, p. 19). Portanto, é preferível que a profissão entenda sua importância sem menosprezar a participação do coletivo ou sobrecarregar-se buscando a solução na solidão. Ao aceitar determinada questão como complexa, busca-se o entendimento das suas partes e a relação com o todo.

Por exemplo, a diversidade cultural existente, provoca e obriga o designer a respeitar e a entender as diferenças de cada comunidade dentro do seu processo de projetar. A necessidade urgente de adaptar-se à cultura e as suas interligações entre sujeito e sociedade é obrigatória. A inclusão como tema de debate, citando caso análogo, é a percepção de usuários diversos em seus comportamentos diversos, com suas ligações contextuais.

Edgar Morin (2005, p. 6) acrescenta a tudo isso mais um fator,

[...] Não se trata de retomar a ambição do pensamento simples que é a de controlar e dominar o real. Trata-se de exercer um pensamento capaz de lidar com o real, de com ele dialogar e negociar.

Diante disso, a ordem que grita aos ouvidos dos designers é a resiliência. Não se pode desejar mudar o mundo por si só, como Cardoso lembra, e sim o anseio por ser capaz de mudar e reinventar processos que se adequam e sejam pertinentes ao problema e à cultura do lugar, não esquecendo do coletivo como protagonista participativo.

Porém, é preciso destacar que não existem receitas fixas (CARDOSO, 2012), por mais que se tenha acesso a várias metodologias. Pois o mundo se transforma a cada momento e é complexo de tal forma, que não cabe em uma única maneira de solução ou até mesmo em processo de entendimento. Além disso, é válido mencionar, que é preciso entrar em debate o impacto que determinada solução é aplicada ou testada. É indispensável a criação que atenda a responsabilidade social da profissão mencionada.

Entretanto, é evidente os desafios que se acerca sobre o tema, além da complexidade que envolve falar sobre o complexo, como a contínua renovação da tecnologia atual - que em alguns minutos pode ser considerada antiga, ultrapassada ou passível de substituição - que propõe sempre uma nova maneira de fazer e instiga o aprendizado constante do projetista.

Não obstante, o ciclo de renovação - tanto do mundo quanto do designer - requer e busca a interdisciplinaridade e comunhão com outros profissionais para ser ter soluções ou apenas discussões pertinentes ao projeto, de maneira que se busque e execute ações integradas. Essa exigência é parte do pressuposto de que não se pode entender sobre determinada questão apenas com o olhar em uma área da matemática, por exemplo, e sim da integração de outras áreas e perspectivas (MORIN, 2005)

Portanto, vê-se a necessidade da chamada à resiliência dentro da profissão e também pela sede sobre tal característica, com a integração em diferentes áreas, ao inserir a participação coletiva como protagonista e a responsabilidade social, dando mais sabor à essência do ser designer.

*Texto desenvolvido por Renata Lídia para disciplina Teoria do Design - Universidade Federal do Rio Grande do Norte - Departamento de Design 2024. Em colaboração com o projeto "Blog Estudos sobre Design", coordenado pelo Professor Rodrigo Boufleur.

Estudos Sobre Design

Referências

MORIN, Edgar. Introdução ao pensamento complexo. Editora Meridional, 2005.

CARDOSO, Rafael. Design para um mundo complexo. Design para um mundo complexo. São Paulo, Cosac Naify, 2012.